21 de junho de 2012

País do Futebol. Só do Futebol.

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Vou confessar que a postagem de hoje não tinha nada a ver com isso. Mas ontem, como a maioria dos brasileiros, passei a noite assistindo ao jogo Santos x Corinthians. O jogo foi emocionante, não só para santistas e corintianos, todos nós sabemos. Mas hoje, como em todas as manhãs após um clássico, vemos quais são as principais notícias nos jornais, em vários canais e programas de esporte. Infelizmente, não falam apenas dos gols e da alegria do time vencedor e tristeza do que não ganhou.  Quantos torcedores morreram? Quantos ainda têm que morrer?  Em outros países os jogos sequer acontecem quando morre um torcedor num ataque. Aqui? Temos torcida organizada, que marcam as brigas, os combates. E por que mesmo? 
Me lembro de quando criança uma vizinha com hipertensão desmaiar durante um jogo do time do coração. Só o casal de netos dela, que tinham aproximadamente a mesma idade que eu, estavam com ela. Eles chamaram a mim e meu primo apavorados quando viram a avó desacordada, estirada no chão da sala. Meu avô a socorreu e levou ao hospital. Ficou tudo bem, mas acho que a família nunca mais deixou que ela assistisse a jogos sozinha. Não, isso não foi engraçado. 
Toda a minha família é torcedora de um mesmo time, as partes materna e paterna. Costumo dizer que eu não tinha saída ou escolha, mas não mudaria porque criei sim um vinculo afetivo. Afinal, é algo que me foi cultivado desde a infância. Admiro alguns jogadores e ex-jogadores, por exemplo, pela história de vida, garra e carisma. Gosto da história do time por ter muito a ver com minha descendência, mas pra ser honesta, nem acompanho fielmente aos jogos, tabelas, e etc. E por incrível que pareça, até hoje não fui a nenhum estádio. 
Desde sempre vejo o meu pai viciado em esportes, principalmente em futebol, claro. Ele assiste a todos os jogos possíveis e costuma narrar, comentar e gritar em todos eles. Principalmente quando isso inclui torcer contra alguém. É perdoável, pois ele queria ser jogador de futebol, o sonho de muitos meninos. Nós ficamos malucas aqui em casa com ele, que como um bom homem não escuta absolutamente nada quando está em frente a uma televisão vendo 22 homens chutando uma bola. Quero dizer que realmente envolve as pessoas e aliena a sociedade.


(Thiago Teixeira/AE)

Me recuso a colocar aqui a história do futebol, ou qualquer coisa do tipo. Nós sabemos mais ou menos como tudo começou e sabemos que antigamente os jogos eram bem mais violentos do que são hoje. O fato é que assistimos, acompanhamos vivemos, respiramos um time, muitas vezes. Nos esquecemos de um milhão de coisas importantes, nos esquecemos de quantas pessoas brigam, perdem a vida com isso, e de quantas poucas vão realmente ganhar algo. O foco aqui é a cegueira, o amor incondicional, capaz de transformar seres humanos em animais guiados por puro instinto. Como se dependessem disso para sobreviver.
Comércio, essa é a palavra. Comércio é o que dá dinheiro, lucros absurdos para poucos. São os salários grandiosos para os jogadores, para aqueles que você paga pra assistir. Não digo que você não deve pagar pra ver a um jogo de futebol, é como cinema, teatro ou qualquer outra coisa. Mas você deve ter a consciência de que não é arte, não é mais lazer, prazer, é comércio e de que não vale a vida, nem a sua, nem a de ninguém. Acho o cúmulo pessoas discutindo sobre o futebol como se uma houvesse roubado a outra. Se é esporte, por que não há o tal “espírito esportivo”? Pior ainda quando partem para a agressão, quando o sangue esquenta tanto, que o outro vira seu pior inimigo somente por usar uma camisa diferente da sua.
Já percebeu que os jogadores raramente passam muito tempo num só time? Eles vão para onde dão mais dinheiro, é isso o que vale a pena. Então por que, pra que fazer com que mais uma mãe chore? O jogo acaba quando o árbitro apita. Matar alguém não vai mudar o resultado, nem esse nem os próximos. Porque eles não se importam. Porque eles ganham dinheiro e se divertem todos juntos, num churrasco, numa festa, todos de times diferentes. Eles são amigos e não se importam se você está contando moedas para pegar o ônibus. Se está praticamente pagando pra trabalhar e ralando pra sustentar sua família. Se gasta com as camisas oficiais do time, se compra ingressos. Você é só mais um! E eles não vão se lembrar de você quando estiverem morrendo. Vão se lembrar dos amigos, dos bons momentos, das coisas que compraram só pra ostentar.
Alienação da sociedade. Novelas, futebol, tudo em excesso, todo vício é perigoso. Quando você para de torcer pela sua vida para torcer por um time, uma camisa, pessoas que nem dependem de você e que não irão ao seu enterro, não te mandarão cartas, flores, não sentirão saudades, você regride. Mas não percebe isso. Não percebe porque desde criança os pais ensinam mais a gostar de um time e detestar ao outro, a importância da estética e do dinheiro, do que o real valor da vida, das coisas, das pessoas, dos momentos, de um sorriso, do caráter. E enquanto essa for a educação, nós veremos pessoas morrendo e parecendo idiotas.


Lídice e Fernando torcem pelos clubes desde a década de 60 (Foto: Lincoln Chaves / Globoesporte.com)

Todos somos gente. Não é a camisa que o outro veste, nem o gosto dele, nem a conta bancária que o torna inferior a você. E mesmo se ele fosse inferior, você não teria o direito de tirar a vida dele. Vocês têm mais em comum do que parece! Ele também tem uma mãe, uma família, um emprego, amigos e a capacidade de amar incondicionalmente, de vestir uma camisa, de se emocionar, de chorar por causa de um gol. Entendeu?! Foi só uma escolha diferente, mas ele ainda é uma PESSOA EXATAMENTE COMO VOCÊ É!


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